quarta-feira, 1 de abril de 2009

Abuso de Crianças

"Sem filosofia de vida é possível que surjam sentimentos que nos façam acreditar que a vida é destituída de significado. Sobretudo quando contemplamos uma certa desordem na sociedade e nos questionamos se a vida fará sentido.

A filosofia de vida inicia forma quando educamos as emoções e nos cultivamos: as reflexões profundas sobre o que vemos, pensamos, conversamos, estruturam um lastro que nos alicerça à vida.

À medida que a capacidade afectiva se desenvolve descobrimos o amor ao mundo e observamos que, com afeição e cuidados, alguns dos que connosco se cruzaram e que cresceram sem esses esteios se vão modificando, paulatinamente, embora com inevitáveis avanços e recuos, por vezes desesperantes.

Então percebemos que o coração com a razão e muita ponderação consegue superar o estrito interesse pessoal, abrindo portas a necessidades humanas com valores inestimáveis, como é o caso do tema de abusos sexuais.

Pretende-se alertar sobre os abusos sexuais, nomeadamente para os pais, cuidadores, educadores e todos aqueles que defendem a condição da criança.
Mas não só:
procura ajudá-los a entender o fenómeno e a agir/reagir de um modo construtivo;
considera que falar-se sobre abusadores sexuais é por um lado evidenciar que eles existem, que estão na sociedade, e por outro despertar a consciência social que, a par da intervenção da Justiça, alguns são pessoas que aceitam auxílio, terapêutico, embora de eficácia incerta.

Infelizmente os abusos sexuais de crianças acontecem à escala mundial.Estiveram sempre presentes em toda a história da humanidade, e em todas as classes sociais
Em vários estudos é consensual que os abusos sexuais ocorrem onde existe uma relação de poder, em que estão presentes e se confrontam actores/forças com pesos/poderes desiguais de conhecimento, autoridade, experiência, maturidade, recursos e estratégias.
O poder é uma força que alguém tem e que exerce visando alcançar objectivos previamente definidos. No caso dos abusos sexuais é validado pela autoridade de quem o detém e decide – a do abusador sexual.
A gravidade dos abusos sexuais depende fundamentalmente do grau de conhecimento e intimidade, dos papéis de autoridade e de responsabilidade de protecção do abusador em relação à vítima, dos laços afectivos que os unem, do grau de violência, física ou não, utilizada ou ameaçada e de suas consequências.
Um dos objectivos de falar de “Abusos Sexuais” é desmistificar as crenças instauradas na sociedade e substituí-las por conhecimento mais preciso. Esse conhecimento irá permitir um melhor saber sobre o abuso sexual de crianças e também a melhor maneira de protegê-las.
Pretendemos alertar que não é só em outros países que os abusos acontecem.
Entre nós no ano de 2006 foram denunciados 996 casos tipificando o crime de abusos sexuais de crianças, expresso no artigo 171º do Código Penal.
Cá como lá muitas situações de abusos sexuais (aparentemente a maioria) acontecem dentro do seio familiar – 92 situações de abusos (10%) entre pais e filhos, 80 situações entre padrasto e enteado, 39 situações entre outros familiares, 34 situações entre tio e sobrinho, 24 casos entre avós e netos.
Pelas relações familiares podemos verificar que houveram 269 casos de abusos sexuais, enquanto nas relações de conhecimento se verificaram 93 situações : 26 entre vizinhos, 17 entre companheiros/namorados, 10 entre colegas e 3 entre amigos, perfazendo o total de 149.
O local da ocorrência dos abusos foi em 373 das situações o da residência das vítimas.
Se acrescentarmos os casos de crimes contra a liberdade sexual e contra a autodeterminção sexual os números aumentam substancialmente, perfazendo a totalidade de 1798 crimes (incluindo os tipificados no abuso sexual de crianças).
De facto, perante os dados apresentados são meros estereótipos considerar que só em instituições, lares de acolhimento, famílias destruturadas, etc., os abusos ocorrem. É habitualmente um mito. Os abusos ocorrem em todas as classes sociais e a grande maioria não chegam ao conhecimento da Justiça, pelo medo, vergonha, culpabilidade que esses mesmos estereótipos mantêm.
Pretendemos também alertar para o facto de não haver perfil de abusadores sexuais : os abusadores sexuais estão entre nós, são cidadãos aparentemente vulgares, cumpridores das suas obrigações, bons pais de família, bons colegas, bons cidadãos e abusadores sexuais. Porquê?
Como a melhor forma de procurar interferir com esta situação é a prevenção, deixamos vários conselhos úteis de como tratar este tema com as crianças.
Embora o abuso sexual de crianças seja um tema que nos provoque receio e revolta, a sua não discussão dá ao abusador maior poder de abusar.

Se todos nos mantivermos no silêncio sobre a sexualidade e sobre o abuso sexual de menores isso dá azo a que seja o abusador a educá-las.

Ana Caetano"





"O Grito"

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